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Resíduos Sólidos: Desafio ou Oportunidade Estratégica?

21/01/2025

Resíduos Sólidos: Desafio ou Oportunidade Estratégica?

Marina Freire
Sócia
Arthur Prudente
Associado

Em 6 de janeiro de 2025, entrou em vigor a Lei nº 15.088, que altera a Lei nº 12.305/2010, proibindo a importação de resíduos sólidos.

A proibição cria desafios de adaptação, mas também inaugura uma era de oportunidades para aqueles que investirem em soluções nacionais e sustentáveis.

Por que vedar a importação de resíduos sólidos no Brasil?

Ao proibir a importação, o Brasil sinaliza seu compromisso em evitar que resíduos de outros países se tornem passivos ambientais locais, o que reduz os riscos de contaminação, incentiva o mercado interno de reciclagem e promove a economia circular nacional.

Quais setores econômicos serão impactados?

Os principais setores afetados são:

  • Indústria de reciclagem, que utiliza materiais como papel, plástico, vidro e metais importados;
  • Fabricantes de papel e celulose, que dependem de insumos reciclados de papel, exceto aparas de papel de fibra longa;
  • Plásticos e metalurgia, que incorporam resíduos importados como matéria-prima;
  • Construção civil, que emprega materiais reciclados como cacos de vidro e resíduos metálicos.

A dependência desses setores de insumos recicláveis importados torna o impacto imediato, mas também cria oportunidades para fortalecer a reciclagem interna.

Quais as alternativas para os setores econômicos afetados?

Algumas alternativas que podem diminuir os impactos da regulamentação são:

  • Aumento da reciclagem doméstica — investir em programas de coleta seletiva e triagem no Brasil, aproveitando o grande potencial de resíduos internos;
  • Parcerias com cooperativas de catadores — integrar a cadeia produtiva e melhorar a eficiência na coleta e separação;
  • Tecnologias de reaproveitamento — desenvolver métodos que ampliem a utilização de resíduos nacionais e reduzam a necessidade de insumos externos;
  • Redução da geração de resíduos primários — reavaliar processos produtivos para minimizar resíduos.

A vedação à importação de resíduos sólidos é uma prática consolidada em outros países?

Sim, países como China e Índia já implementaram restrições similares. A China, em 2018, estabeleceu sua política de “National Sword“, proibindo a importação de resíduos plásticos e outros recicláveis para reduzir a poluição ambiental e fomentar a reciclagem interna. A União Europeia, por sua vez, adota regulamentações rígidas para exportação e controle de resíduos plásticos, priorizando a reciclagem dentro do bloco. Essas iniciativas refletem um movimento global para desestimular o tráfico de resíduos entre países.

Há benefícios ambientais relevantes decorrentes da proibição?

A vedação implicará benefícios expressivos para a política ambiental nacional:

  • Evita que resíduos não tratados contaminem solo e água no Brasil;
  • Incentiva a economia circular, gerando emprego e renda no setor de reciclagem;
  • Reduz emissões associadas ao transporte internacional de resíduos;
  • Cria mecanismos mais sólidos para lidar com os próprios resíduos e estimula políticas públicas locais.

Quais resíduos ainda podem ser importados?

A nova legislação que proíbe a importação de resíduos sólidos no Brasil estabelece algumas exceções específicas:

  • Materiais Estratégicos — é permitida a importação de resíduos utilizados na transformação de materiais e minerais estratégicos, como aparas de papel de fibra longa e resíduos de metais e materiais metálicos;
  • Logística Reversa de Autopeças — importadores e fabricantes de autopeças (exceto pneus) podem importar resíduos sólidos derivados de produtos nacionais previamente exportados, destinados exclusivamente à logística reversa e reciclagem integral, mesmo que classificados como resíduos perigosos.

Essas exceções visam atender a setores específicos da indústria que dependem de materiais recicláveis não disponíveis em quantidade suficiente no mercado interno, o que garante a continuidade de processos produtivos essenciais.

Como as novas regras sobre resíduos sólidos redefinem responsabilidades e quais são os impactos e inovações para os setores econômicos?

As novas proibições reafirmam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos e reforça que os materiais recicláveis e rejeitos gerados no Brasil devem ser prioritariamente tratados, reaproveitados ou descartados internamente.

Quais são as inovações e impactos que a Lei gera?

Os setores impactados pela Lei têm alguns desafios, como apontamos anteriormente, mas também há oportunidade de inovar o setor, como:

  • A proibição da importação obriga os agentes econômicos e públicos a intensificarem os esforços para melhorar a infraestrutura de reciclagem e tratamento de resíduos;
  • Setores afetados precisarão investir em soluções criativas para reaproveitamento de resíduos locais;
  • Geração de demanda por coleta e reciclagem no Brasil, com impactos positivos para cooperativas e pequenas empresas.